Nova administração da Embrapa deve
dar mais atenção ao agronegócio
No
último dia 21 de janeiro, a demissão de toda a diretoria
da Embrapa pelo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa), Roberto Rodrigues, teve repercussão no meio acadêmico
e no governo. De um lado, o ministro afirmou, em nota
oficial, que o objetivo da mudança é fortalecer
o agronegócio, que engloba tanto a atividade agrícola
empresarial quanto a familiar. De outro lado, rumores indicam
que a troca na administração da empresa visa consolidar
as pesquisas em biotecnologia, o que era dificultado pela então
diretoria, parcialmente contra o desenvolvimento de transgênicos
- muito embora a Embrapa tenha avançado nas pesquisas com
cultivares geneticamente modificados. No meio de tantas afirmações,
ficou claro que divergências entre a diretoria da Embrapa
e o Mapa levaram à mudança, que até demorou
para acontecer.
De acordo com José Geraldo Eugênio, que fará
parte da nova diretoria, a equipe que deixa a direção
da Embrapa "é uma das mais capazes que a instituição
já teve". Para ele, as mudanças se dão
no meio de um processo de reformulação no perfil
administrativo do Mapa. "Não há nada de pessoal
ou que questione a capacidade ou gerencial da equipe", ressalta.
O agrônomo é atualmente superintendente de pesquisa
e desenvolvimento da Embrapa, além de ser coordenador do
Laboratório de Cultura de Tecidos, da Empresa Pernambucana
de Pesquisa Agropecuária (IPA).
Ele
explica que nos últimos dois anos, a Embrapa procurou apoiar
as pesquisas em biotecnologia, mas não deixou de lado o
desenvolvimento de tecnologias voltadas à agricultura familiar
brasileira. Os avanços na área de transgênicos
foram grandes. "Foi no Governo Lula que, a partir de negociações
estabelecidas entre os Mapa e os Ministérios do Meio Ambiente
e da Saúde, permitiu-se o plantio experimental de plantas
geneticamente modificadas geradas por diversos projetos de pesquisa
da Embrapa (feijão, batata e mamão), o que não
ocorria desde o ano de 1998", ressalta Eugênio.
O
engenheiro agrônomo e pesquisador do Departamento de Política
Científica e Tecnológica (DPCT) da Unicamp, Sérgio
Salles-Filho, lembra que foram técnicos da Embrapa que
esclareceram na Presidência da República o que são
Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) e qual a importância
de desenvolvê-los para o futuro do país. "Entretanto,
sabia-se que parte da direção da Embrapa não
era exatamente pró-ativa a favor dos transgênicos",
afirma, enfatizando que "a luta contra os OGMs deve ser do
Ministério do Meio Ambiente, e não da Embrapa ou
do Mapa".
Mudança
na expectativa
A mudança na diretoria da Embrapa já era esperada.
"Não havia afinidade política nem mesmo técnica
(de desenvolvimento de tecnologia) entre o ministro e o presidente
da Embrapa", ressalta Salles-Filho. Ele acredita que a empresa
ganhou muito prestígio ultimamente, mas continua subordinada
ao Mapa, diferente da Petrobras e do Banco Nacional do Desenvolvimento
(BNDES), que, embora ligados a ministérios, são
politicamente considerados instituições independentes
porque têm mais dinheiro que os próprios ministérios
a que pertencem. "Havia uma grande tensão devido à
distância entre a direção da empresa e o ministro",
explica o engenheiro agrônomo.
A
expectativa da nova administração, segundo José
Geraldo Eugênio, é que se alinhe as ações
da Embrapa, do Ministério da Agricultura e do Governo Lula,
no sentido de promover, dentro e fora do país, os produtos
oriundos do agronegócio, com ênfase ao melhoramento
genético de novas cultivares e de raças. "O
novo grupo quer mostrar que o agronegócio nacional contempla
milhões de produtores. O desenvolvimento e empresários,
variando dos menores aos maiores produtores. O desenvolvimento
e adaptação de tecnologias apropriadas, bem como
a transferência de tecnologia merecerão o apoio integrado
do Ministério da Agricultura e da Embrapa, complementa
Eugênio.
No
lugar do presidente da instituição, Clayton Campanhola,
entra Silvio Crestana, físico e funcionário da Embrapa
desde 1984. De acordo com nota oficial divulgada pelo Ministério,
Rodrigues aguarda resposta de Campanhola para assumir o pólo
de Biocombustíveis de Piracicaba. Além de José
Geraldo Eugênio, também farão parte da direção
da empresa Tatiana de Sá, chefe da Embrapa Amazônia
Oriental e especialista em manejo e recursos naturais sustentáveis
e Kepler Euclides Filho, chefe da Gado de Corte.