Putin quer por fim ao modelo russo de
pesquisa em ciência e tecnologia
A Academia Russa de Ciência (RAS, em inglês) anda em alvoroço. O motivo é uma reforma estrutural anunciada no início de setembro de forma não esperada - e confirmada pelo presidente Vladmir Putin - que visa, entre outras medidas, reduzir de 5 mil para cerca de 200 o número de instituições públicas de pesquisa, com objetivo de cortar gastos e redirecionar as verbas aplicadas em ciência e tecnologia. Para o presidente, é preciso acabar com o modelo russo de se fazer ciência, que estaria ultrapassado. Já para os cientistas, a reestruturação significa redução drástica de recursos para pesquisa e desemprego no meio acadêmico.
As
mudanças na Academia vieram a público quando um documento
oficial com as propostas de reestruturação vazou dos
governantes e caiu na mão dos cientistas. O documento, de
acordo com uma matéria veiculada na revista científica
norte-americana Science, revela o plano de reestruturação
da RAS, que se basearia na privatização ou fusão
de grande parte das 5 mil instituições de pesquisa,
no corte de pessoal (estima-se que 150 mil cientistas permaneçam
na Academia) e na integração de dinheiro público
e privado nas pesquisas realizadas nas universidades.
Após
o anúncio do vazamento das informações - e
depois de uma reunião entre os membros da RAS - o presidente
da Academia, Yuri Osipov, sugeriu que a discussão das propostas
do documento fosse evitada. No entanto, o vice-presidente, Nikolay
Plate, criticou as propostas de reforma, afirmando que foram projetadas
com o objetivo de "tirar o poder da Academia". Mas por
meio de um porta-voz, a RAS afirmou que não comentaria o
plano ao ministro russo de Ciência e Educação,
Andrey Svinarenko.
Mesmo
sem a opinião oficial da RAS, Svinarenko disse que considera
o plano razoável. Para ele, muitos dos institutos russos
são pequenos - possuem de três a 15 membros - o que
os torna "ineficazes e caros para manter". Além
disso, o ministro ressalta que o número de instituições
públicas de pesquisa da Rússia mais do que dobrou
desde 1990. Do mesmo modo, Boris Saltykov, que foi o primeiro ministro
da Ciência e Educação da Rússia, acredita
que uma reforma estrutural na Academia é necessária.
"Se você dá o dinheiro a uma quase-estrutura soviética
velha como RAS, ele será usado tão ineficazmente quanto
no passado e não terá nenhum efeito substancial,"
afirmou em declaração à Science.
Na
reunião do Conselho para a Ciência, Tecnologias e Educação,
que aconteceu em outubro, em Moscou, o presidente russo Putin reafirmou
que não pretende acabar com a RAS, ao contrário do
que se tem ouvido dos corredores acadêmicos. "As organizações
de pesquisa da Rússia foram criadas em condições
diferentes, em um país diferente, em uma situação
econômica e política diferente", disse oficialmente.
Formalmente, as reformas ainda não foram decretadas, mas espera-se que em poucos meses o parlamento russo aprove o início da reorganização da RAS. Mesmo contra a vontade da própria Academia.