Campanha em defesa do amianto reascende discussão sobre
proibição do uso
Proibido de ser veiculado pela mídia, o comercial do Instituto
Brasileiro de Crisotila, que defende o uso do amianto, foi modificado
e voltou a ser exibido. De acordo com o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação
Publicitária (Conar), através de seu conselheiro Sérgio
Daniel Simon, a campanha "Aminato Crisotila, respeitando a
vida, fazendo o Brasil crescer" desrespeita quatro artigos
do Código Brasileiro de Auto-Regulamentação
Publicitária. Fernanda Giannasi, coordenadora da Rede
Virtual-Cidadã pelo Banimento do Amianto - responsável
pela denúncia -, acredita que a campanha do Instituto acabou
tendo efeito contrário ao esperado. "Está havendo
grande indignação, uma reação de grande
desconforto em relação à campanha", afirma.
A partir desta semana, a Associação dos Expostos ao
Amianto, da qual faz parte a Rede Virtual-Cidadã, veiculará
campanha informativa à população sobre o uso
do amianto.
A
campanha publicitária já foi modificada três vezes
desde sua primeira exibição, em 7 de outubro deste ano.
Desde então, o Instituto foi obrigado a alterar o texto, "que
contraria o Código Brasileiro de Auto-Regulamentação
Publicitária, pois pode induzir em erro o consumidor leigo",
diz a medida
cautelar de 26 de outubro. Giannasi afirma que a idéia
não é censurar, mas evitar que sejamos permissivos.
Desde
1995 a legislação brasileira (Lei n° 9.055) proíbe
a exploração, comercialização e uso de
alguns tipos de amiantos (existem cerca de 30) em todo o território
nacional, por causarem problemas de saúde ocupacional. Porém,
a crisotila, ou amianto branco, só é proibida em 15
municípios de três Estados (PE, RS e RJ). São
Paulo e Mato Grosso do Sul tiveram suas leis embargadas pelo Supremo
Tribunal Federal, que favoreceu a comercialização do
produto, alegando prejuízos econômicos. Atualmente, o
projeto de lei (2186/1996), de autoria dos deputados federais Eduardo
Jorge e Fernando Gabeira, pretende estender o banimento ao amianto
crisotila, que responde por 97% do consumo mundial, mas está
em tramitação, sem previsão de votação.
Há ainda os projetos de lei (6110 e 6111/2002), do deputado
federal Mendes Thame, que visam proibir o material em obras públicas
e nas indústrias, mas que dependem da aprovação
da anterior.
A
questão é espinhosa. Por um lado, estão os argumentos
embasados em pesquisas científicas que mostram que a inalação
de partículas do amianto provoca sérios problemas de
saúde, entre os quais o câncer. Apenas na Europa seriam
cerca de cinco mil mortes anuais, enquanto as indenizações
cobradas de seguradoras européias ultrapassariam U$ 80 bilhões,
de acordo com a empresa PricewartehouseCoppers, que é
inglesa. Por outro lado, o Brasil ocupa o lugar de quarto maior produtor
mundial de amianto, o que reneu US$ 344 milhões, em 2001, segundo
dados do Balanço Mineral Brasileiro do Departamento Nacional
de Produção Mineral (DNPM), do Ministério de
Minas e Energia (MME). Atualmente, Goiás é o único
Estado possuidor das reservas nacionais de amianto crisotila, fato
que deixa claro os motivos pelos quais levaram o Instituto
Nacional da Crisotila, formado por empresas produtoras de amianto
desta região, a investirem em campanhas pró-amianto.
Histórico
O Brasil iniciou a produção comercial de amianto em
1938, na Bahia, e interrompeu em 1967, com a exaustão da mina,
através da empresa SAMA - Mineração de Amianto
Ltda. Em seguida, a empresa partiu para a exploração
das jazidas de Goiás, descobertas por volta de 1962. Com o
desenvolvimento da mineração de amianto em Goiás,
a produção nacional passou de 2.145 toneladas por ano
em 1965 para a auto-suficiência em 1985, com 165.062 t/ano,
e os atuais 200 mil t/ano de fibra de amianto, extraída totalmente
na mina situada no Município de Minaçu no estado de
Goiás. Trinta porcento desta produção é
destinada à exportação para países como
a Índia, Tailândia, Japão, México, Indonésia,
Chile, Arábia Saudita, Argentina, entre outros.
"Considerando
os diversos cenários que se apresentam, acredita-se que até
2005, o consumo fique estabilizado entre 165 a 172 mil toneladas.
Sendo a proposta de banimento rejeitada, o consumo deve permanecer
no patamar de 173 mil/ton. até 2010, ou até nos atuais
níveis, em decorrência do desempenho da economia",
prevê o DNPM.
Até
haver a próxima votação da Lei 2186, que poderá
banir a comercialização do amianto crisotila, o Instituto
Brasileiro de Crisotila trabalha para mudar a imagem do produto. Um
destes esforços é a Sala do Amianto em Goiânia
que recebe visitantes que estejam interessados em pesquisar sobre
seu produto. À sua disposição existem salas de
reunião e projeção, livros, fitas de vídeo,
relatórios, exposição de amostras, produtos manufaturados
entre outros. Tudo para incentivar o consumo do produto.
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