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Associação traz especialista para debater avanços no tratamento da talassemia


O Brasil faz parte, desde maio de 2004, de um seleto grupo de cinco países que utiliza o que existe de mais avançado no tratamento da talassemia, um tipo raro de anemia hereditária. Algumas iniciativas da Associação Brasileira de Talassemia (Abrasta) estão ajudando a implantar tratamentos mais modernos e proporcionando uma vida mais digna aos pacientes. No último dia seis, a Abrasta convidou o hematologista inglês Victor Hoffbrand, professor Emérito do Royal Free Hospital de Londres, para abordar o uso de três tipos de medicamentos de uso oral no combate à doença, os chamados quelantes, combinados com as tradicionais injeções.

Nesta doença, o portador produz um sangue que contém pouca hemoglobina, substância responsável pelo transporte e fornecimento de oxigênio ao nosso corpo. O tratamento implica na realização de transfusões de sangue até semanais, o que acaba gerando acúmulo de ferro no organismo, principalmente em regiões como coração, pâncreas e fígado. Este acúmulo dever ser combatido com o uso de quelante que, até pouco tempo, eram usados no Brasil eram exclusivamente por meio de injeções diárias, aplicadas de noite, de forma gradativa, em um período de até 12 horas.

A iniciativa da Abrasta é o segundo passo no sentido de melhorar o tratamento de talassemia no Brasil. A primeira delas ocorreu em maio, durante a 4ª Conferência Internacional de Talassemia da Associação, quando foi anunciado um protocolo de pesquisa, coordenado pelo hematologista Nelson Hamerschlak, do Hospital Albert Einstein. Tal protocolo viabilizou o uso da ressonância magnética para avaliar a concentração de ferro no organismo, que possibilita um diagnóstico mais preciso e um tratamento adequado. Essa técnica, que será proporcionada gratuitamente a cerca de 300 pacientes só é dominada em outros quatro países: Grécia, Itália, EUA e Inglaterra. No Brasil, são cerca de 500 portadores de Talassemia.

Segundo Merula Steagall, presidente da Abrasta, o uso de quelantes orais tem sido avaliado pelos especialistas como um fator de melhora de rendimento no tratamento da doença, quando usado de maneira alternada com os injetáveis. Outro ponto importante está relacionado com o fato dos medicamentos orais tornarem o tratamento menos doloroso. "O uso do medicamento oral é muito importante principalmente para o tratamento de jovens e adolescentes, pois eles conseguem manter um ritmo de vida em que podem sair à noite com os amigos, por exemplo" explica Steagall. "Se você disser ao jovem que ele vai precisar tomar injeções diárias, durante um longo espaço de tempo, a chance de um tratamento irregular e ineficiente aumenta muito", completa.

Hoffbrand afirma que encontros de associações como os da Abrasta são comuns também na Inglaterra e importantes para a manter a atualização tanto dos pacientes como dos pesquisadores. "O intercâmbio de informações entre pesquisadores tem sido excelente nas últimas duas décadas, graças aos encontros científicos e workshops, além de atividades promovidas pela Federação Internacional de Talassemia e por associações como a Abrasta", afirma.

As pesquisas voltadas para o combate à talassemia, de acordo com a presidente da Abrasca, também contribuem para o combate de outras patologias denominadas "transfuso-dependentes", ou seja, que obrigam o paciente a fazer transfusões de sangue periódicas e acabam gerando acúmulo de ferro no organismo. O próximo passo da Abrasta é buscar apoio financeiro para pesquisas realizadas no Brasil. "Vamos participar do próximo encontro da American Society of Hematology, onde já existe uma negociação neste sentido e serão definidos os requisitos para uma instituição nacional participar de pesquisas cooperadas", conclui.

Medula sem hemácias
Os glóbulos vermelhos, também chamados de células hemácias, são compostos de várias moléculas de hemoglobina, proteína responsável pelo transporte e fornecimento de oxigênio ao organismo. Eles são produzidos por nossa medula, de acordo com a necessidade de renovação do nosso "estoque" no sangue. Nas pessoas sem anemia, após um período de vida útil, as hemácias antigas são substituídas e os átomos de ferro, que fazem parte da sua composição, são assimilados pelas novas hemácias que se formam. A medula dos talassêmicos, porém, não produz novas hemácias, já que seu "estoque" é renovado devido às transfusões de sangue periódicas. Deste modo, o ferro originário das antigas hemácias não é aproveitado pelo organismo, acumulando-se ao longo tempo e causando, a longo prazo, sérios danos à saúde.
Atualizado em 08/11/04
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